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Com Uma Pequena Ajuda de Meus Amigos

“Hoje não se pode mais fazer o carro pegar no tranco!” - Esta é a recomendação dos mecânicos diante do surgimento dos carros com injeção eletrônica. Até então, quando o carro cismava em não funcionar - e aparentemente não havia outro problema mais grave - recorria-se ao artifício de empurrar o veículo até funcionar, ou seja, até o motor “pegar no tranco”.

Lembro que quando era mais jovem e só andava a pé ou de ônibus, uma das coisas que gostava de fazer era imitar o bom samaritano e socorrer os motoristas nessas situações de emergência. Eram duas, três pessoas empurrando o veículo até ele pegar o embalo. Quando enfim o carro “pegava no tranco”, a gente vibrava como se fosse o gol do nosso time de coração (o irônico é que a tecnologia está nos privando desse prazeroso ato de solidariedade)!

Aristóteles, filósofo grego, pregava que “o homem é um animal social”. O poeta inglês John Donne declamou que “ninguém é uma ilha”. Comungando com tais pensamentos, entendo que somos as partículas de um todo, do qual denominamos de “comunidade”. Ajudar-nos mutuamente, evitar-se-á que a civilização entre em colapso e não vá terminar com um futuro sombrio, frio e arenoso como o de “Mad Max”. A amizade e a fraternidade mantêm o ambiente mais harmonioso e frutífero para a paz universal.

Podemos ser bem-aventurados pelo talento e esforço próprios. Mas de uma maneira ou de outra, pessoas são anjos e, ainda que anonimamente, surjam do nada para nos salvar nos momentos mais adversos. Quem aí nunca foi ajudado por alguém que jamais tenha visto na vida?

Uma estrutura familiar é a bússola que orienta o indíviduo. Mas não se pode ignorar que, quando jovens, as amizades têm o poder de influenciar as nossas escolhas, convicções e decisões, interferindo inclusive em nossos futuros. As amizades verdadeiras constroem. Já os “muy amigos”, o máximo que conseguem é nos empurrar para a ribanceira, à prisão ou ao cemitério. Nessas horas é preciso ter muito discernimento para separar o “joio do trigo”. Distinguir quem é ético, leal e altruísta, do oportunista, desleal e egoísta. Alguém aí nunca ouviu falar do “Amigo da Onça”, personagem criado pelo cartunista Péricles e que fez muito sucesso nos anos 40 e 50 na extinta revista “O Cruzeiro”?

Os Beatles têm uma canção chamada “With a Little Help from My Friends”, cantada pelo baterista Ringo Starr e que depois também viria a fazer sucesso na voz de Joe Cocker. A canção é uma bela ode à amizade, essa dádiva que orienta, que ajuda e que salva, tal como nos versos da belíssima “Canção da América”, de Milton Nascimento.

Claro que nesta vida ninguém conseguirá ter “um milhão de amigos” como naquela canção do Roberto. Está escrito que quem tem um amigo, já tem um tesouro. Mas se ao menos durante a sua estada nesta vida, você tiver dois ou três amigos para fazerem o seu carro pegar no tranco, pode se considerar um bem-aventurado...

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